terça-feira, 26 de julho de 2011

Anúncio de 1970 usava a morte de ídolos
da música para alertar contra as drogas

Reprodução 
Jornal da Tarde - 25/10/1970
Para ler, clique na imagem
Acabei de encontrar o anúncio publicitário publicado em 1970 no Jornal da Tarde,  mencionando  a morte de Janis Joplin e Jimi Hendrix e o uso de drogas (clique na imagem ao lado). 
É de autoria da Agência de Publicidade Alcântara Machado.
Além do início do texto, eu me lembrava de dois outros trechos: ''somos uma empresa intimamente ligada à comunicação" e "preferimos ver você erguendo os braços na Ilha de Wight, do que baixá-los para morrer".
Digitei no Google e encontrei no blog Reclames do Estadão, que o  postou na noite de sábado, horas depois de eu ter feito a citação em meu blog.
O texto traz algumas incorreções, como a idade de Jimi, citada como 24 anos, e a de Janis, como 26. Ambos tinham 27 e já se aproximavam dos 28.
A correlação verbal e preposicional não está adequada na frase que menciona a Ilha de Wight. Se o verbo "erguer" está no gerúndio, o "baixar" também deveria estar. Já o "preferir" exige a preposição "a" e não a expressão "do que".
Mas isso é supérfluo diante do resgate da memória de uma época que ainda tem muito a ver com os nossos tempos. Não deixa de ser um documento histórico.
Além das informações, podemos observar que a acentuação ainda obedece as regras vigentes desde 1942. Somente em 1971 foi assinada reforma ortográfica que abolia os acentos diferenciais e o acento grave nas palavras derivadas de outras com acento agudo.
O anúncio da Agência Alcântara Machado foi publicado no dia 25 de outubro de 1970. Não deixe de ler.
A título de curiosidade, cinco anos mais tarde, 25 de outubro entraria para a história do Brasil como a data em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto sob torturas na sede do Deops em São Paulo. (Leia mais aqui).
                           TRANSCRIÇÃO DO ANÚNCIO
Caso tenha dificuldade para ler na imagem acima, veja abaixo a transcrição do anúncio da Agência Alcântara Machado publicado em 25 de outubro 1970 após a morte de Jimi Hendrix e Janis Joplin (observe que as idades estão erradas):
“Estamos chorando por eles.
Jimmy Hendrix, 24 anos, gênio da guitarra. Morto por drogas.
Janis Joplin, 26 anos, estrela do soul. Morta por drogas.
Somos uma empresa intimamente ligada à comunicação.
Para Jimmy e Janis, seríamos um punhado de cifras, alienado e sem calor. Uma realidade da qual fugiriam para o mundo mágico que criaram.
De onde saem, então, as lágrimas que choramos por eles?
Saem de todos nós da Alcântara Machado Publicidade.
Da juventude que nos cerca.
E que amamos.
Porque eles são um sopro de vida no cansaço do mundo. Porque eles são cores, vida, amor, liberdade.
Porque o mundo só é rico no coração dos jovens.
Por isso, além de nossas lágrimas, estamos colocando nossa arma – o anúncio – a serviço de todos os Jimmys e Janis desse País.
Pelo amor de Deus, vivam.
Não deixem que a alienação maior – a ‘viagem’ sem fim – acabe sem volta.
Não deixem que as drogas os levem para sempre do mundo que vocês querem esquecer.
Sem vocês, esse mundo fica ainda pior.
Fuja dos traficantes. Em última instância, você, que tem um sereno desprezo pelo ‘mundo dos negócios’, estará alimentando o mais sujo negócio do mundo: drogas.
E se você julga que somos nós, os mais velhos, uma das razões do vazio que a vida que o atormenta, viva o suficiente para tentar mudar o mundo que lhe demos.
Ninguém faz nada nem muda nada debaixo do túmulo.
Preferimos ver você levantando os braços na ilha de Wight, do que baixá-los para morrer.
Não morra por nada. Não vale a pena. Ou, para usar a nossa linguagem: é um mau negócio”.

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