sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sexta-feira Santa, um dia de resguardo, um dia de cinema. "Em memória de mim".

Sexta-feira da Paixão. Desde que me entendo por gente, este é um dia de resguardo. Não se ia à praia, nem se festejava.  Dia de bacalhau ou peixe no almoço. Comia-se peixe, e ainda se come, para evitar a carne vermelha. Dia em que Jesus Cristo foi sacrificado na cruz pelos romanos,  depois de ter sido traído por Judas. O mesmo Judas que participou da ceia com ele e os outros 11 apóstolos.
Embora tenha sido batizada, feito a primeira comunhão aos 8 anos de idade e estudado os quatro anos do antigo Ginásio em um colégio de freiras, as imagens mais fortes da história de Cristo que memorizei  não me chegaram ao conhecimento exatamente por meio da Igreja. E nessa afirmação não está embutida nenhuma crítica, é bom ressalvar.
O cinema foi determinante no meu conhecimento da trajetória do Filho de Deus.
Em minha infância, quando a influência da televisão ainda não era tão forte nas casas e não havia tanto perigo nas ruas, assim como as crianças podiam ir à escola ou ao cinema sem a companhia dos pais, eu e minha irmã mais velha costumávamos assistir às matinês aos domingos.
Nas Sextas-feiras Santas, o hábito prevalecia.
Após o almoço, não perdíamos a sessão da tarde no cinema.
As únicas recomendações de nossos pais era que não falássemos com estranhos, nem mascássemos chiclete. Para que não caíssemos em tentação, eles sempre citavam o exemplo de alguma criança que já tinha morrido engasgada com a goma elástica.
Obedientes, comprávamos outras guloseimas, como drops Dulcora, quadradinhos e embalados em celofane, ou cigarrinhos de chocolate ao leite, da marca Pan, ou ainda a pipoca vendida por pipoqueiro na calçada em frente ao cinema.
Na tela gigante, acompanhávamos compadecidas a história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, passando obviamente pelo calvário de transportar a cruz nos ombros ensanguentados pelas chicotadas dos soldados romanos.
O martírio aumentava com a coroa de espinhos lhe espetando a cabeça. Não é por outro motivo que a planta usada para ornamentar muros e espantar invasores se chama coroa-de-cristo. No momento da crucificação, íamos às lágrimas.
No filme, havia ainda a cena marcante do Monte das Oliveiras e do Sermão da Montanha. O momento crucial era o da ascensão aos céus, envolto em uma nuvem, que simbolizava o encontro com Deus.
Não me lembro do título exato do filme, nem o nome do diretor, tampouco os dos atores. Só sei que chamávamos de Paixão de Cristo e estávamos na segunda metade dos anos 1960.
Nessa época, antes do filme começar, era exibido o futebol do Canal 100. Isso salvava muita gente atrasada de perder o início da fita. Quando o filme estava na metade, havia um intervalo para se ir ao banheiro ou beber água.
Voltando ao título, encontrei em uma pesquisa que, em 1961, entrou em cartaz o filme Rei dos Reis, de Nicholas Ray, mas talvez não tenha sido esse o que vi, porque com certeza eu ainda era muito bebê para ir ao cinema por essa ocasião. A não ser que ele tenha sido exibido alguns anos depois.
Outra alternativa é A Maior História de Todos os Tempos, de George Stevens, lançado em 1965. Bem mais plausível, já que as cópias não chegavam aos cinemas de pequenas cidades com tanta velocidade. Assim, posso ter visto no ano seguinte.
A prova de que a exibição nos cinemas fora das capitais não ocorria de acordo com a estreia é que também foi por intermédio da telona que conheci a história de Moisés, vivido por Charlton Heston, e do povo hebreu, da travessia do Mar Vermelho e da leitura da tábua das leis de Deus.
Só que o filme Os Dez Mandamentos, que narrava esses fatos, foi lançado em 1956. Nesse ano, no entanto, eu ainda nem tinha nascido. De fato, fui ver esse filme no cinema mais de uma década depois da estreia.
Revendo fotos e cenas de A Maior História de Todos os Tempos, estou tentada a dizer que era a esse que eu assistia em toda Sexta-feira Santa. Por sinal, nele Charlton Heston interpretava João Batista.
De qualquer modo, o cinema foi importante no meu processo de conhecimento da história de Cristo.
Hoje, busco entender um pouco mais, indo à missa, lendo a Bíblia e refletindo.
Entre tantas passagens, há uma que sempre me emociona. É o momento em que, à mesa, Ele reparte o pão, que simboliza seu corpo, e oferece o vinho, que é seu sangue, dizendo: "Fazei isto em memória de mim".
Seria bom que jamais nos esquecêssemos disso.

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