sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A gratidão do médico Thomas Maack

A coluna Tribuna Livre, da edição de hoje do jornal A Tribuna, publica meu artigo "A gratidão do médico Thomas Maack", que se refere a um dos papéis do jornalista e ao agradecimento que esse meu entrevistado me fez na Câmara de Santos, durante a sessão solene do último dia 8 de novembro.
Homenageado na sede do Legislativo santista, por ter sido um dos presos no navio Raul Soares, em 1964, e por ter ajudado a cuidar da saúde de outros prisioneiros, Maack também mencionou meu pai, Iradil Santos Mello, e meu livro "Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós".
As citações no discurso foram motivadas pela reportagem que fiz com ele em 2003 e que publiquei em A Tribuna.
Clique na imagem para ampliar e ler. Caso não consiga, o texto está reproduzido mais abaixo.

A Tribuna - 30 de novembro de 2012 - página A-2.
Tribuna Livre.
LÍDIA MARIA DE MELO. Jornalista, professora do curso de Comunicação Social da UniSantos, escritora e mestre em Ciências da Comunicação pela USP.
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A gratidão do médico Thomas Maack
A um jornalista cabe não apenas reportar informações. Sob sua responsabilidade estão o registro de fatos históricos, a preservação e o resgate da memória. Por isso, é necessário voltar à sessão da Câmara de Santos de 8 de novembro.
Nessa data, o médico Thomas Maack recebeu merecida homenagem, proposta pelo vereador Marcus De Rosis. A honraria, ele dividiu com outros homens que, a exemplo dele, foram feitos prisioneiros políticos no navio Raul Soares, no Porto de Santos, em 1964.
Por questões profissionais, não participei da noite solene. Mesmo assim, no discurso que proferiu, Thomas Maack mencionou meu nome e o de meu pai, além de um dos meus livros e uma entrevista que fiz com ele há nove anos.
“Lídia Maria de Melo, escritora, jornalista, filha do falecido Iradil Santos Mello, meu companheiro de prisão no Raul Soares, escreveu um livro profundo: ‘Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós’, que retrata o que foi a repressão da ditadura – a repressão no Raul Soares - sob o ponto de vista de um trabalhador no Porto de Santos, de um sindicalista e de sua família. Lídia foi a jornalista que em 2003 publicou a primeira entrevista comigo e fez conhecer ao povo santista o meu papel. Pelo livro e pela entrevista, eu lhe devo uma profunda gratidão”. Ele me enviou uma cópia do texto por e-mail.
O agradecimento, que acolhi com respeito e admiração, eu compartilho neste espaço, porque foi em A Tribuna que publiquei, na edição de 2 de novembro de 2003, a entrevista citada na Câmara.
Intitulada “Thomas Maack, médico e preso do Raul Soares”, a reportagem ocupou a página A-4 na data em que fazia 39 anos que o navio fora rebocado de Santos. Pela primeira vez, a imprensa contava a história do alemão que viveu no Brasil dos primeiros meses de vida até os 29 anos, mas, antes de obter a cidadania, teve que deixar o País.
Para viabilizar esse trabalho jornalístico, primeiro, pesquisei intensamente o paradeiro daquele médico cujo nome eu conhecia desde criança. Entre 4 mil homônimos, localizei-o em Nova Iorque (EUA). Para a entrevista, ele leu meu livro e, durante meses, mantivemos longas conversas diárias por e-mail.
Depois que redigi os textos, chegou o momento da edição. Nessa etapa, contei com a parceria do diagramador Luiz Sérgio Moura. Publicada, a reportagem recebeu cumprimentos da Câmara e de leitores. Além de constar nos arquivos de A Tribuna, está reproduzida no site Novo Milênio.
Em 20 de fevereiro de 2004, Thomas Maack esteve em Santos. Encontramo-nos em frente ao prédio da Bolsa de Café. Era sexta-feira, véspera de Carnaval. A pedido dele, levei-o ao porto. Diante da estação das barcas que fazem a travessia entre Santos e Vicente de Carvalho, ele viu o lugar onde o Raul Soares permaneceu no canal do estuário, perto da Ilha Barnabé. Fiz fotos com uma máquina que ainda usava filme.
De lá, fomos ao Palácio da Polícia, na Rua São Francisco. Ele só reconheceu o prédio onde funcionou o Dops, quando nos dirigimos à parte de trás. Ali, após o navio seguir para o Rio de Janeiro, ele ficou preso até 15 de dezembro de 1964. Almoçamos no restaurante Vista ao Mar, na orla da praia, onde lhe dei o livro “Um Jeito Santista de Ser”, editado e ofertado pela Prefeitura.
Essa passagem de Thomas Maack pela Cidade só teve duas testemunhas: Artur Ribeiro, afilhado dele, e eu, então editora do Caderno Local de A Tribuna. No dia seguinte, 21 de fevereiro, a coluna Dia a Dia deu a notícia em três notas intituladas: “Sombras do passado”, “Visita monitorada” e “Livro na bagagem”.
A memória do ser humano pode falhar, mas o que um jornal publica permanece. Vira arquivo. Entra para a História.
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